terça-feira, fevereiro 20, 2007

para o Bill 2



Querido Bill:

O que sinto por ti sempre foi uma relação de amor/ ódio, bem à maneira de todas as minhas grandes obsessões. Se fosses um livro serias um livro de Sebald. E eu gosto de Sebald.

Haviam dias em que te agradecia tudo o que sempre fizeste por mim. Dias em que tudo o que me dizias fazia sentido, mesmo que fosse para falar da tua ultima visita ao dentista, de novas tecnologias, de física ou matemática, de tipografia hebraica... Mas gostava disso, dos teus assuntos infindáveis para os quais ninguém tinha paciência. Eu às vezes tinha.

Tinha sempre esperança que tornasses a mudar os meus percursos e as minhas certezas... Fizeste-o algumas vezes e estou grata por isso.

Sempre gostei do teu sentido de humor, irónico e ácido. Gostava desse teu ar sabedor, experiente que contrastava com a minha inexperiência. Gostava quando me ensinavas coisas, quando me contavas histórias infindáveis. Às vezes até me esquecia que não gostava do teu cheiro (tu brincavas com isso e dizias que era melhor cheirar mal do que não ter cheiro). Sempre soubeste dizer as palavras certas nos momentos certos, eu, que não sou nada assim, sempre admirei essa capacidade nas pessoas.

Agora não sei bem quando te tornarei a ver, ou se alguma vez vou pensar de outra forma. A minha relação contigo sempre foi este vai e vem... e eu fui.

um beijinho grande

para o Bill 1

Querido Bill:

Este era o nome que secretamente te chamava porque me fazias lembrar o outro Bill, o Murray. Normalmente nunca gosto de chamar as pessoas pelos nomes, por isso invento sempre outros nomes para as pessoas, uns cómicos, outros maldosos– tu tiveste este entre muitos outros nomes que não vou nomear aqui.

Não gosto do teu ar cansado, sem paciência. Não gosto desse o teu mau cheiro, das oscilações de temperamento, da tua cobardia... Dizias muitas vezes que já pouco tinha a capacidade de te surpreender. E acho que, infelizmente, terias razão. Havia um tom amargurado quando falavas, como se já tivesses a certeza de tudo, como se mais nada houvesse para aprender. Não tinhas expectativas e as tuas certezas às vezes soavam a sentenças.
Eu tinha medo de me teres ditado uma sentença sem sequer me teres deixado ir a julgamento.

Outra coisa que me deixava sempre transtornada, é que nunca fui capaz de ter uma conversa sincera e honesta contigo. Nunca tive coragem para nada: para te interpelar, para te perguntar, para nada... Conseguias fazer com que ficasse calada nas tuas maiores insanidades. E foram algumas.

Terias concerteza, inúmeras justificações, eu também tenho as minhas. Mas isso não importa. A verdade é que sempre gostei muito de ti.

Um beijinho com saudades