segunda-feira, outubro 13, 2008

L



"Ao falar com pessoas sobre o nosso trabalho elas muitas vezes perguntam de onde vêm as ideias para os espectáculos. É uma pergunta difícil: porque é que nos interessamos por determinadas coisas em vez de outras? O que é que nos entusiasma ao certo? É óbvio que somos influenciados pelo mundo à nossa volta e as vidas que vivemos, os livros que lemos, os filmes que vemos, as galerias a que vamos e o teatro e espectáculos de artes performativas a que assistimos. Mas onde tem origem a ideia propriamente dita não sei dizer. Mas também acho que talvez possa ser a pergunta errada. O que talvez seja mais apropriado é: como é que essas ideias se desenvolvem e crescem?
Presumption começou com dois fios muito distintos. Tematicamente, queríamos explorar o amor. Não o amor intenso, o de quando é que nos voltamos a ver, do novo romance, nem um amor triste, amargo, do coração despedaçado, mas o lugar do meio. Queríamos olhar para um amor que cresceu ao longo dos anos até um ponto em que andar com a vida para a frente se tornou mais importante. Onde já não é claro se os sentimentos se tornaram mais profundos e parte integrante de nós – ou simplesmente se o que estamos a viver é um hábito e pôr em causa a sinceridade da emoção é demasiado perigoso, já que significaria uma total alteração da vida. 
Foi um tema difícil de explorar. É um sentimento que está submerso e de que raramente se fala. Há muita pressão para se ser apaixonado hoje em dia. O amor confortável parece que devia ser um oximoro, deixa um gosto amargo na boca, a confissão de um fracasso: um primeiro passo para as pantufas e o cachimbo.
E ao mesmo tempo falamos de envelhecer juntos, damos valor aos silêncios confortáveis, queremos um ombro de apoio onde chorar, um abraço. Ao fazer o espectáculo, falámos muito das nossas próprias experiências e expectativas; falámos dos nossos pais e avós. Falámos de gerações que nos precederam e que estavam tão ocupadas a trabalhar e a sustentar os filhos que nunca se deram ao luxo de perguntar se estavam felizes juntas ou não. A Beth e o Tom foi o que arranjámos, e um olhar sobre um par de dias da sua vida. 
O segundo fio, que esteve lá desde o início, é a fisicalidade da peça. Esta teve a sua primeira concretização num work in progress chamado Best Laid Plans, que integrou o Pyramid Festival dos Sheffield Theatres em Maio de 2005. Nessa altura pensámos que era a abertura de um espectáculo e era apenas eu a trazer mobília para cena vinda dos bastidores. Um espectáculo a solo com muito pouco texto e a sugestão de que uma personagem masculina estava fora de cena à espera de entrar. Recebemos reacções positivas e sugestões úteis por parte do público e portanto começámos a viagem que nos levou ao espectáculo que vão ver esta noite.
Ao longo do caminho, criámos horas de material. Concebemos e escrevemos. Partimos mobília e caímos. Às vezes sentimos que nos tínhamos perdido, mas voltámos no dia seguinte com a coragem de ir numa direcção completamente diferente. Vimos filmes, lemos livros e fizemos confissões. De vez em quando discutimos mas, de forma surpreendente para nós, não muitas vezes. Há algo nosso no espectáculo e talvez consigam encontrar lá algo vosso também. Acho que é seguro dizer que nos divertimos a fazer Presumption; gostamos da peça e esperamos que gostem também. Bom espectáculo e não deixem de nos dizer o que acharam."

Este texto de Rachael Walton sobre Presumption demostra que, o que somos influencia o que fazemos. Um texto que gostei de reencontrar, aqui está descontextualizado mas, ainda assim, no sítio.

segunda-feira, março 17, 2008

M

quarta-feira, novembro 21, 2007

Estou contigo, Patrick!



07.11.2007 - 17h28 Sara Capelo

O que faria se descobrisse a rapariga dos seus sonhos no metro? Patrick Moberg, 21 anos, deu uso à suas aptidões para o "webdesign" e criou um site para a encontrar. O problema de Patrick será descobrir entre os 8,2 milhões habitantes de Nova Iorque a mulher que no último domingo viajava por volta das 21h30 na linha cinco do metro.

Como abordar uma desconhecida? Primeiro o contacto visual. Talvez um sorriso. Depois uma aproximação. A medo, perguntar o nome e um contacto. Ter uma conversa de ocasião. Com sorte, encontrar pontos em comum. Patrick quis pôr estas regras do manual universal de conquista em prática. Mas por ser “tímido e romântico” não foi capaz, confessou ao "New York Post".

Na última estação, Bowling Green, resolveu aproximar-se. Ainda tentou segui-la no meio da confusão. Mas a multidão envolveu-a e Patrick perdeu-a de vista numa esquina do subterrâneo de Nova Iorque. Para muitos que já foram atacados pela “paixão à primeira vista” seria o fim da conquista. Pensariam que dificilmente a voltariam a ver – ainda para mais na populosa Nova Iorque – e esqueceriam a fugaz atracção depois de uma noite de sono.

Mas Patrick não desistiu e publicou no site www.nygirlofmydreams.com/ um esboço da “rapariga dos seus sonhos”: cabelo castanho entrançado e com uma flor do lado esquerdo, maçãs do rosto coradas, calções de ginásio azuis por cima de collants da mesma cor e escrevendo num bloco. Ao lado o seu desenho, para o caso de a desconhecida ter sentido o mesmo durante o “muito sólido contacto visual” (segundo descrição de Patrick) entre os dois. No mesmo esboço, Patrick descreve-se como alto e magro, sublinhando que não está louco, mas sim “atraído pela rapariga”.

Desde segunda-feira, quando criou o site, o endereço de e-mail e o telefone de Patrick têm sido inundados com mensagens de apoio. A cadeia televisiva CNN já o contactou para uma entrevista. O seu patrão na Vimeo (que faz partilha de vídeos online) gravou uma declaração em que Patrick explica o que lhe aconteceu (http://laughingsquid.com/help-patrick-moberg-find-the-ny-girl-of-his-dreams).

Patrick, nascido na cidade de Nashville, estado do Tennessee, vive em Nova Iorque desde o Verão. Em três dias conseguiu os 15 minutos de fama que muitos procuram toda a vida. E tudo em nome da “química” sentida num transporte público. Patrick arriscou. Será que vai conseguir encontrar a jovem desconhecida? Por enquanto, garante que deixará o site a funcionar o máximo tempo possível. Até se conhecerem. Depois quem sabe...

http://www.nygirlofmydreams.com/

terça-feira, fevereiro 20, 2007

para o Bill 2



Querido Bill:

O que sinto por ti sempre foi uma relação de amor/ ódio, bem à maneira de todas as minhas grandes obsessões. Se fosses um livro serias um livro de Sebald. E eu gosto de Sebald.

Haviam dias em que te agradecia tudo o que sempre fizeste por mim. Dias em que tudo o que me dizias fazia sentido, mesmo que fosse para falar da tua ultima visita ao dentista, de novas tecnologias, de física ou matemática, de tipografia hebraica... Mas gostava disso, dos teus assuntos infindáveis para os quais ninguém tinha paciência. Eu às vezes tinha.

Tinha sempre esperança que tornasses a mudar os meus percursos e as minhas certezas... Fizeste-o algumas vezes e estou grata por isso.

Sempre gostei do teu sentido de humor, irónico e ácido. Gostava desse teu ar sabedor, experiente que contrastava com a minha inexperiência. Gostava quando me ensinavas coisas, quando me contavas histórias infindáveis. Às vezes até me esquecia que não gostava do teu cheiro (tu brincavas com isso e dizias que era melhor cheirar mal do que não ter cheiro). Sempre soubeste dizer as palavras certas nos momentos certos, eu, que não sou nada assim, sempre admirei essa capacidade nas pessoas.

Agora não sei bem quando te tornarei a ver, ou se alguma vez vou pensar de outra forma. A minha relação contigo sempre foi este vai e vem... e eu fui.

um beijinho grande

para o Bill 1

Querido Bill:

Este era o nome que secretamente te chamava porque me fazias lembrar o outro Bill, o Murray. Normalmente nunca gosto de chamar as pessoas pelos nomes, por isso invento sempre outros nomes para as pessoas, uns cómicos, outros maldosos– tu tiveste este entre muitos outros nomes que não vou nomear aqui.

Não gosto do teu ar cansado, sem paciência. Não gosto desse o teu mau cheiro, das oscilações de temperamento, da tua cobardia... Dizias muitas vezes que já pouco tinha a capacidade de te surpreender. E acho que, infelizmente, terias razão. Havia um tom amargurado quando falavas, como se já tivesses a certeza de tudo, como se mais nada houvesse para aprender. Não tinhas expectativas e as tuas certezas às vezes soavam a sentenças.
Eu tinha medo de me teres ditado uma sentença sem sequer me teres deixado ir a julgamento.

Outra coisa que me deixava sempre transtornada, é que nunca fui capaz de ter uma conversa sincera e honesta contigo. Nunca tive coragem para nada: para te interpelar, para te perguntar, para nada... Conseguias fazer com que ficasse calada nas tuas maiores insanidades. E foram algumas.

Terias concerteza, inúmeras justificações, eu também tenho as minhas. Mas isso não importa. A verdade é que sempre gostei muito de ti.

Um beijinho com saudades

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Defende o dever de falar a verdade, independentemente das consequências

«Quando, numa noite longuíssima, contei ao Carlos a verdade, toda a verdade, e nada mais do que a verdade, ficou desesperado.
(...)
Numa tentativa para ver claro, comecei a escrever uma série de apontamentos. Alguns seriam a mim destinados, outros eram rascunhos de cartas que lhe terei enviado. Correndo todos os riscos, transcrevo-os na íntegra. Uma paráfrase jamais daria o tom, infantil e angustiado, que contém. Eis o que, a 20 de Junho de 1969, dizia ao Carlos: "O que me prende a ti: admiração pelo teu carácter, tens imensas qualidades, dureza, consistência, força, intuição, capacidade de sofrer, honestidade, lucidez, resistência." Seguia-se uma espécie de balanço: "O que não gosto em ti — comodismo e superficialidade; não exigência do melhor; falta de curiosidade (incluindo a intelectual), o 'tudo quanto vem à rede é peixe'; falta de sangue novo; não discutir os problemas; a tua falta de alegria; a tua pouca ânsia de felicidade. As tuas frustrações: o 'gostaria de, mas'. O que te prejudica: o pessimismo; o medo de decepções; o seres fechado (a desconfiança); a ilusória frieza e invulnerabilidade; o entregares-te pouco, no amor, na vida, na profissão, as mentiras ('as canções do bandido'); possivelmente, as tuas ideias acerca do amor, do casamento, do ciúme. O que me atrai: acima de tudo, a tua ternura; depois, o teu humor, a tua força, a tua 'interioridade', a tua passividade, a tua estabilidade, o teu ar adulto, a tua calma, os teus silêncios (às vezes), a tua tristeza. O que me irrita: a tua pseudo-sensatez (e anti-brilhantismo) — não exageras, não te excitas, não te admiras —, o teu masoquismo (o 'comigo, já se sabe...'), os teus silêncios (às vezes), a tua pouca generosidade, a tua falta de curiosidade, a tua grande e desconhecida crueldade, o seres impiedoso, frio e cruel (o deus invulnerável), o teu isolamento, a tua incapacidade de pequenos actos de amor, inesperados e loucos. O que eu gosto em mim: a minha alegria de viver, a minha espontaneidade, a minha curiosidade (intelectual, musical), a minha generosidade, o não me deixar vencer pela vida (o não me deixar 'domar'), a felicidade como um dever (o amor pelos prazeres terrenos), a minha honestidade (nunca mentir); a inteligência teórica, a minha capacidade de revolta, a minha coragem na redescoberta; a necessidade de cultura. O que odeio em mim: a dependência afectiva; a minha inconsistência como pessoa; o ser fraca, instável, imatura, insegura, ciumenta, possessiva; o não poder estar sozinha; o desespero imediato; a minha brutalidade; a minha covardia (não ser capaz de sofrer, fraqueza, timidez), as infidelidades; a pouca atenção dada ao 'outro', o ser, como as crianças, egocêntrica, que é o mesmo de ser egoísta; falta de intuição; pouca assimilação do que leio; a inveja." No final, acrescentava, orgulhosa: "É preferível estes erros do que, por medo, os não ter cometido.»

Bilhete de Identidade, Maria Filomena Mónica

segunda-feira, dezembro 18, 2006

cartas de amor da avó




Passar uns dias em casa, com tempo, tem destas coisas. Arrumam-se caixas a mais caixas, desarruma-se tudo para voltar a organizar numa azáfama para enganar o tempo que passa lentamente.
No meio destas (des)arrumações encontrei as cartas de amor que a minha avó escrevia para o meu avô, que nunca conheci. Quando tentei conhecer a minha avó, conhecer, no sentido de pensar nela para além do grau de parentesco que nos unia, já era tarde. Quando pensei nela para além de uma velhota que nos oferecia bolos e se lamentava das dores que a idade lhe dava, ela adoeceu e passou anos num estado em que lhe restavam poucas forças para conversar e me conhecer melhor.
Todas as histórias que sei sobre ela, são contadas pela minha mãe e pelas minhas tias, que, à boa maneira familiar, têm tendência para contar histórias infindáveis, sempre com versões diferentes e muito ficcionadas...
Encontrar este tesouro, faz-me recordar a senhora que conhecia quando era pequena, e que, dizem, com quem me pareço muito.
A verdade, é que sempre que me comparavam com ela, ficava chateada, uma vez que sempre a entendi como uma pessoa que tinha as vontades confinadas aos mandamentos das irmãs, solteiras, que lhe educaram os filhos, incluindo a minha mãe. Há um peso na educação da minha família que é muito niveladora das vontades individuais, o que para mim, sempre foi motivo para ínumeras tempestades, em mim e com os outros.
Conhecer a minha avó pelas cartas pessoais, é uma outra pessoa que se desenha à minha frente, para além dos mitos sociais desinteressantes e aborrecidos.


gosto muito desta foto de família. Não faço ideia de quem sejam, a minha mãe fala numas irmãs que ficaram viúvas com os filhos...

terça-feira, outubro 31, 2006

bordo por amor

agora, e após alguns pedidos, envio t-shirts bordadas à cobrança :-)